uma Disney não tão perfeita

image001.jpg


Sempre fui uma daquelas pessoas que se deixam facilmente maravilhar pelos mistérios hipnóticos de uma boa peça de arte. E ao referir-me a “arte” não me cinjo às telas cobertas de tinta nem aos blocos dos mais variados materiais que são esculpidos e trabalhados pelas mãos de mentes engenhosas e inventivas. Falo da arte enquanto imaginação talentosa que se exprime sob a forma de pintura, escultura, música, dança, teatro, cinema, literatura…

Recentemente descobri o trabalho de um artista mexicano que se destaca pela controvérsia e talvez um pouco pelo choque. José Rodolfo Loaiza Ontiveros realizou uma coletânea de trabalhos à qual chamou “Tierra de desastre” (em espanhol) ou “Disasterland” (em inglês) e onde estão retratadas personagens dos clássicos da Disney de uma forma bastante diferente daquela a que estamos habituados, muito mais negra e abordando temáticas como a homossexualidade, o suicídio, as crises nervosas, o consumo de drogas, a religião, entre outras. Nas suas obras, o artista apresenta, por exemplo, o Pinóquio, Jessica Rabbit, as princesas Disney e respetivos príncipes e bruxas malvadas. Para além disso, Rodolfo Loaiza recorre também, por vezes, a figuras ou situações conhecidas do público que permitem identificar imediatamente o cenário apresentado (a título exemplificativo considere-se uma recriação de uma quadro de Frida Kahlo ou até a celebração de um casamento gay pelo Papa Francisco). Devido às temáticas abordadas, o mexicano é tido como um artista da categoria “Profanity Pop”.

Assim, ao debruçar-me sobre esta coletânea concluo que a “Terra do desastre” pode referir-se, dependendo da obra em análise, à nossa sociedade e aos seus problemas ou ao próprio lado escondido do universo Disney. Passo então a esclarecer: a Disney acostumou-nos a uma realidade idílica que sabemos claramente não existir, ocultando-nos as realidades menos boas ou controversas do mundo. Penso então que Loaiza Ontiveros pretende “humanizar” a Disney através da identificação das suas personagens com problemas reais, sendo esta uma forma de prender a atenção do público visto tratarem-se de figuras conhecidas de todos.

Sempre fui uma daquelas pessoas que se deixam facilmente maravilhar pelos mistérios hipnóticos de uma boa peça de arte. Agora estou sob a hipnose de José Rodolfo Loaiza Ontiveros.
publicado por - fcar - às 09:49 | comentar | favorito