Bernardo, transcrevo um trecho do livro "O Espírito do tempo", que estou lendo, que vai ao encontro da sua pergunta:
"[...] O lazer é um tempo ganho ao trabalho. Mas é um tempo que se diferencia do tempo das festividades, próprio do modo antigo de vida. As festas, repartidas ao longo do ano, eram simultaneamente o tempo das comunhões coletivas, dos ritos sagrados, das cerimônias, da supressão dos tabus, dos banquetes e dos festins. O tempo das festas foi corroído pela organização moderna e pela nova repartição das zonas de tempo livre: fim de semana, férias. [...] Mas, sobretudo, o lazer abre os horizontes do bem-estar, do consumo e de uma vida privada nova. A produção em série, a venda a crédito, abrem as portas aos bens industriais, ao lar dos eletrodomésticos, aos fins de semana motorizados. É, portanto, possível começar a participar na civilização do bem-estar e essa participação embrionária no consumo significa que o lazer não é apenas a vida do repouso ou da recuperação física e nervosa, já não é a participação coletiva na festa, já não é tanto a participação nas atividades familiares produtivas ou acumulativas, é também, progressivamente, a possibilidade de ter uma vida de consumo" [...] O lazer moderno aparece, então, como o próprio tecido da vida pessoal, o meio em que o homem procura afirmar-se como indivíduo privado".
ps: o livro foi escrito em 62, não obstante seu caráter profético.
Andrei Serotini (56194) a 1 de Novembro de 2017 às 12:53
As formas de lazer tradicionais são como os meios de comunicação tradicionais: não são substituídos por aquilo que há de novo, mas perdem a intensidade de uso e a popularidade, e entram numa constante adaptação. Em relação ao Mar Shopping, duas coisas me incomodaram: a primeira envolve exatamente o fato exposto, em relação ao consumo, que transforma cada vez mais a sociedade em um palco egocêntrico; a segunda refere-se à questão da mobilidade, tendo em vista a dificuldade desde a construção do espaço para chegar ao centro comercial, o que nos faz depender de um meio de transporte próprio.
Por fim, gostaria de ressaltar aquilo que diz Bauman sobre a transformação do espaço público em “templo do consumo”, num “não-lugar”: as pessoas se tornam peregrinos em busca de algo simultaneamente inconstante e purificado, ou seja, com as diferenças menos afloradas. Isto acaba por oferecer uma realidade falsa, na qual habitam e constroem seus próprios muros.
Isadora Sánchez (a56297) a 4 de Novembro de 2017 às 22:08
Desde sempre tradições foram sendo substituídas por outras, será isso bom? mau?
Neste caso, não penso sequer que seja isso que está a acontecer. As pessoas procuram algo que não seja rotineiro, procuram lugares novos, procuram um dia diferente dos outros. O Mar Shopping é uma novidade, o que irá atrair imensas pessoas de inúmeros sítios do nosso Algarve, porém, não penso que as pequenas tradições, como por exemplo a feira de Santa Iria seja posta de parte, afinal o ser humano arranja sempre tempo para fazer ou visitar algo que lhe interessa.
Escolher ir a sitio novo que tanto nos oferece (cinemas, lojas, restaurantes, etc) não implica deixar de ir às festas da cidade de Faro que tanto têm para dar também (convivência, diversão, comida, acessórios, etc).
Tânia Cruz (a57978) a 5 de Novembro de 2017 às 15:02
Pessoalmente, considero que uma novidade não passa disso mesmo, de uma novidade! Um criança, quando recebe um jogo novo não o larga, pelo menos durante uns tempos... Ultrapassada a fase da novidade, aquele jogo passa a ser só mais um no meio de tantos. É esta a situação que, a meu ver, será espelhada na afluência do centro comercial. Por enquanto, o mesmo continua a albergar diariamente um número considerável de visitantes. Mas a longo prazo, não creio que se sobreponha a feiras tão características da região, como a de Santa Iria. Até porque, é a diversidade cultural que atrai os turistas e que nos faz querer conhecer lugares diferentes dos nossos. O ser humano, é e sempre será um ser muito curioso!
Adriana Assunção a 30 de Novembro de 2017 às 16:21
Adriana foi extremamente feliz em sua comparação com a criança: é temporário. Acredito que o lazer tradicional ainda respira, as novidades são temporárias, e seu brilho logo se perde face as memórias criadas nas tradições anteriores. Gostaria de observar o público da feira em 2018 em face ao público do MarShopping. Espero que a feira continue a borbulhar com vida, como nos anos anteriores. Acredito também que cabe a nós manter e cuidar das nossas tradições mais valiosas, afinal um centro comercial encontramos em qualquer lugar, mas a Feira de Santa Iria, e tantas outras feiras em Portugal ou no Brasil, são particulares a cada comunidade, e só estando nelas para entender seu real valor.
Brenda Brito 56248
Brenda Brito 56248 a 9 de Dezembro de 2017 às 11:33
Respondendo à questão colocada: sim.
Tal como já foi referido, acredito que o Mar Shopping é exatamente uma novidade! Não deixa de ser verdade que é o maior centro comercial a nível algarvio, porém, não considero que o tamanho ou o conteúdo do mesmo seja suficiente para tirar protagonismo a todos os outros eventos ditos "tradicionais" que já possuem lugar marcado à mesa de jantar de, neste caso, tantos algarvios.
Lembro-me perfeitamente da abertura o IKEA, uma loucura! E agora? Quem deixaria de ir à Feira de Santa Iria para passar o dia no IKEA? Trata-se do mesmo. As novidades são exatamente isso, novidades.
Foi importante a construção de um centro comercial de tamanho porte para que tivéssemos um maior e melhor acesso a certos produtos, mas as tradições nunca se perderam devido às novidades, e nunca se perderão.
Inês Carriço | a57944
Inês Carriço (57944) a 19 de Dezembro de 2017 às 16:38