Tauromaquia é cultura ou cobardia?

Ocorreram 207 espetáculos tauromáquicos em Portugal, no ano de 2019. 469 mil pessoas dirigiram-se às arenas para assistirem à “tourada à portuguesa”. Faz lembrar as denominações dos pratos tradicionais, com a exceção de que neste, o animal é igualmente morto, mas não chega a servir de refeição.



Durante os últimos dois anos, coincidentes com a crise pandémica, as praças de touros, tal como os restantes espaços culturais, foram encerradas e o número de espetáculos tauromáquicos diminuiu drasticamente. Isto porque as touradas são consideradas cultura e, cada vez mais, entretenimento. Por outro lado, é de louvar que as arenas tenham tido as portas fechadas, o que contribuiu para um descanso, ainda que temporário, destes animais.



É recorrente ouvir-se dizer, pelos fanáticos de tauromaquia, que estes são espetáculos verdadeiramente culturais e que estão longe de provocar dor aos touros. Sendo assim, não sei que justificação darão eles para as farpas que lhes são espetadas e para a morte que lhes segue ao espetáculo. Porque sim, não será só em Espanha que estes animais são mortos. A diferença é que na cultura do país vizinho, optam por fazê-lo ainda na arena. Talvez possamos comparar esse momento, quando num concerto, a banda pede para o público se levantar e cantar em conjunto a última canção. Nas touradas, o público levanta-se e aplaude para celebrar os últimos minutos de tortura do touro. Assim dá para perceber que estas são duas formas de cultura perto de serem idênticas, com a diferença de que na primeira ficam marcas de diversão e na segunda, vestígios de sangue.



A tauromaquia é dos melhores exemplos de cobardia do Homem do Séc. XXI. Na Roma Antiga, os principais espetáculos culturais eram caracterizados por colocar o Homem e o animal no mesmo patamar de luta. Isto é, não havia um cavalo que servisse de suporte e benefício (sabemos que dá mais jeito colocar as farpas no touro estando mais alto que ele). Havia somente dois seres vivos na arena, prontos para lutar igualmente pela sobrevivência.



A nossa história está repleta de exemplos de situações que eram consideradas cultura, na altura, mas que hoje são vistas como algo inusitado, como a escravatura ou o canibalismo. Atualmente já não o são porque o ser humano evoluiu e, felizmente, tornou-se capaz de entender o que é digno de ser aplaudido. Tal como olhamos para o passado, no futuro iremos fazer o mesmo e ficar incrédulos pelo facto de torturarmos touros em troca de palmas. 

publicado por - fcar - às 17:08 | comentar | favorito