Quebra-cabeças social
A primeira coisa que se faz quando se acaba de publicar um texto num blogue é partilhá-lo nas redes sociais. Uma a uma, com comentários adequados à audiência, tentando que a publicação se torne viral. Que cause debates, tenha partilhas e comentários, faça escândalo se for possível. O escândalo nem sempre é amigo, mas para certos tipos de sites o que importa mesmo é aparecer. A partilha nas redes sociais não é um complemento, é uma obrigação mesmo que o texto seja a malhar nelas, no Mark Zuckerberg ou nos dois. Este estado de coisas significa que é trágico para o tráfego de um site ser banido de uma rede social, leia-se, Facebook. Sabemos que há ali políticas de censura que são incompreensíveis, como o blogue que é banido porque partilhou a imagem de uma obra de arte pré-histórica que tem mamilos. Depois há as suspensões vindas do nada, que o Facebook não explica e que deixam os utilizadores em suspenso durante dias ou semanas, e os perfis descaradamente falsos que são denunciados a toda a hora e continuam a existir. A inconsistência das políticas do Facebook quanto ao que é considerado aceitável e inaceitável na plataforma torna difícil cumprir regras. Há páginas abertamente racistas que podem lá andar o tempo que quiserem, e depois há páginas veganas que são banidas por mostrarem matadouros. A problemática que isto coloca é importante, porque significa que há uma entidade convoluta a decidir o que chega e não chega a milhões de pessoas. São estagiários que fazem a revisão das denúncias? É o algoritmo que está mal programado? Depende da língua em que o conteúdo está escrito? Este tema da censura, se assim lhe podemos chamar, foi abordado durante as audiências de Mark Zuckerberg no congresso americano mas enquadrado de forma errada, porque a política de espectáculo costuma ser assim, asinina. Vários republicanos perguntaram ao CEO do Facebook porque é que a rede social censura conteúdos conservadores, partindo do caso pouco sério da dupla Diamond & Silk. São duas irmãs negras que constituem talvez as chefes de claque mais barulhentas da internet em defesa de Donald Trump. Elas queixaram-se de que o alcance orgânico das suas publicações estava a descer muito e isso só podia ter a mão dos executivos do Facebook, que não gostariam de Trump nem dos seus apoiantes. Depois receberam uma mensagem a dizer que os seus vídeos eram inseguros para a comunidade e o caldo entornou. Estes casos mostram o quebra-cabeças que é moderar conteúdos sem censurar à toa. O Facebook e o Twitter foram massacrados nos últimos anos com notícias falsas e trolls que procuram desestabilizar e desinformar, e sabemos que ambos têm a responsabilidade de filtrar a porcaria. Que critérios usam? Onde posso ir lê-los? É isto que os reguladores e legisladores têm de perguntar, em vez de se meterem por caminhos apertados a tentar encontrar no meio dia o som das duas da tarde.
Inês Calvinho,nº57922
Inês Calvinho,nº57922