Papel do papel

Papel do papel – alegoria aleatória, evidente curta porque como o próximo Nobel da Literatura diz "Se tempo é dinheiro eu vou gastá-lo contigo".



O papel do papel. A efemeridade do papel. A efemeridade social. É inegável, porventura à falta de suportes que satisfizessem quer a necessidade física de durabilidade razoável, quer a aptidão a que seja dactilografado, que o próprio do papel tenha assumido, e nalguns casos ainda assuma, um papel ensopado em litros viscerais de eternidade que, na realidade, contrastam com a própria efemeridade do dito. O papel transformou-se mais do que num produto, numa matéria-prima - primogénita da celulose calculo. Do papel timbrado da declaração endereçada à ADSE, emitida pelos Serviços Académicos, em que se atestam trivialidades óbvias seladas com lacre, ao papel de folha dupla em rolo do qual me escuso de explicar a utilidade, mas cuja suavidade aprecio. A perpetuação do documento está na palavra. “Os Maias” impresso em folhas de nylon continuaria a ser suavemente imposto como clássico novelesco. “A dança da vida” do Gu Santos impresso em papel, com bíblico layout que apresenta, serve, salvo utilizações mais criativas, exclusivamente o propósito que encima me imiscui de explicitar – acresce a desvantagem de uma gramagem superior nada amiga da limpeza da mucosa. Os livros já são ebooks, a folha dupla Renova(r-se-á) numa cor nova todas as semanas, mas o cartuchinho rafeiroso do vendedor de castanhas conservar-se-á, em salmoura, o mesmo.



Retomando Agir, irei preludiar pormenores do meu futuro casamento com mais duas utilidades do dito, ora verbalizem comigo: "Vai ser com um anel feito de cartão (yeah) Numa igreja de papelão"



Miguel Balança 54638
publicado por - fcar - às 09:50 | comentar | favorito