Meios de comunicação e poderes

Os meios de comunicação desde sempre constituíram uma forma de divulgação de informação, mas não é menos certo afirmar que também integraram um dos mais fortes instrumentos de manipulação pelos mais poderosos. Regressemos ao século XX, a título exemplificativo, da força do poder sobre a divulgação da informação. O “lápis azul” foi um símbolo da censura e da época da ditadura em Portugal no século XX. Esta técnica, usadas pelos censores, consistia numa forma de cortes de informação que eram justificados como meio de impedir e delimitar a subversão e difamação, de modo a proteger a ditadura. Nos dias de hoje, embora não tenhamos censura, pelo menos no sentido literal da palavra, existem diversos modos e formas de controlar aquilo que é exposto nos meios de comunicação, com o intuito de criar, de forma propositada, no público-alvo determinadas reações ou sentimentos. Em primeiro lugar, e tendo em conta o texto da autoria de João Gonçalves, creio que é importante falar no poder das palavras como forma de manipulação. Desde logo, a escolha dos vocábulos, o modo como estes estão inseridos numa frase e o sentido que lhes é dado. Os jornalistas, debaixo da alçada do poder, escolhem títulos sensacionalistas, usando palavras que provocam as reações pretendidas por esse mesmo poder a que se encontram submetidas. Desde modo, torna-se bastante difícil que uma informação seja interpretada uniformemente por todo o público-alvo, na medida em que não há objetividade na passagem da mesma. Assim, consoante o conhecimento de cada indivíduo relativamente a determinada temática a sua interpretação será diferente. Podemos fazer uma comparação entre a manipulação da informação e a Teoria Anomia de Merton, da mesma forma que o indivíduo recorre ao crime por não conseguir atingir as metas socialmente impostas, também os jornalistas recorrem a títulos sensacionalistas de modo a conseguir atingir os objetivos de leitura ou visualizações pretendidas. Concordando com João Gonçalves, “são escandalosas as formas que se utilizam para levar avante os mais variados fins”, importa referir que a escolha do público-alvo é uma destas formas. Ora sendo os manuais escolares um instrumento de aquisição de conhecimento, estes podem ser utilizados pelos poderosos para impingir a informação que pretendem que seja interiorizada por quem não tem conhecimento de causa. Isto é, aproveitando-se da iliteracia ou ignorância dos mais novos, ensinam, por exemplo, acontecimentos históricos de uma forma distinta ou de forma não verídica. O facto de se usar os manuais escolares para estes fins, são um mero exemplo da escolha do poder para manipular a informação que é transmitida. Assim, através da manipulação consegue-se dominar. Podemos afirmar com toda a certeza que o facto de o poder manipular o jornalismo e este, por sua vez, manipular o leitor, torna a divulgação de informação um mero instrumento de domínio.

Carla Gonçalves
publicado por - fcar - às 21:42 | comentar | favorito