Hashtag: #GOALS?

O título diz tudo. Isto é algo que tem vindo a bombardear redes sociais, como o Twitter, MySpace, Instagram , Facebook , etc. Estão por todo o lado. Acompanham descrições de fotos, comentários, ou simplesmente substituem toda a descrição ou qualquer emoção que resta dela. A verdadeira razão pelo qual as hashtags (em Português, etiquetas) foram criadas foi para criar um catálogo de tudo o que publicamos na internet, seja imagens, texto, vídeos, entre outros. Porém, as hashtags adquiriram um sentido totalmente diferente. Para uns, uma forma barata, senão mesmo gratuita, de conseguir maior visibilidade e maior quantidade de gostos nas suas publicações; para outros, a única forma de exprimir o que sentem.

Todo este paleio não veio do nada, como é óbvio. A hashtags que me tem vindo a causar alguma confusão – não por me confundir com alguma coisa, mas simplesmente porque não encontro uma maneira plausível de compreender uma mera razão por detrás do uso da mesma – e, de certa forma, preocupação pelas gerações futuras e o que as mesmas esperam do seu futuro é a # Goals .

Para quem não sabe – e ainda não sei se isso é algo positivo ou não, a palavra “ goals ” é, naturalmente, de origem americana cujo significado, em português, é “objetivos”. Neste contexto, quando é mencionada nas redes sociais seguido de um # (cardinal), simboliza “objetivo de vida”, algo inatingível, um sonho que nunca se vai tornar real, porque, sejamos honestos, na maioria dos casos, retrata uma realidade quase onírica. A forma mais fácil de vos mostrar, queridos leitores, do que falo é com um exemplo real de um casal cada vez mais famoso no Instagram .

Jay Alvarrez (@ jayalvarrez ) , de 19 anos, e Alexis René (@ alexisreneg ) , de 18 anos, são um casal de modelos extremamente populares no Instagram e ambos protagonizam dois vídeos, que podem ser acedidos facilmente no Youtube, produzidos por Jay, que mostram o estilo de vida ridiculamente fantástico que vivem . E, por favor, dispensem mesmo uns minutos do vosso tempo para pesquisar os vídeos só para terem uma noção do que falo. Viagens, paisagens de sonho, atividades radicais, hotéis, casas, carros, entre outros sonhos de qualquer pessoa, são o mais frequente nas suas publicações a que toda a gente parece chamar de “objetivos de vida”. É mesmo com pesar que leio milhares de comentários de vários utilizadores da rede social a catalogarem este estilo de vida como # goals .

Antes de alguém criticar e dizer «só estás a dizer isso, porque tens inveja»: não. Claro que é um estilo de vida brutal; cla ro que amava saltar de um avião, de um balão de ar quente, ou nadar com raias nas Maldivas; claro que também adorava possuir um corpo totalmente musculado e tonificado como ambos têm; mas não. Não confundo uma relação amorosa associada a um estilo de vida com a imagem que eles querem passar disso.

Na inte rnet, é muito fácil recriar o tipo de vida que se quer transparecer para os outros. É fácil tornar tudo muito mais feliz, muito mais entusiasmante, muito melhor do que aquilo que rea lmente é. Na internet, pode-se tirar uma fotografia a ti e torná -la 100 vez mais apelativa e distorcê-la da realidade que nã o se quer nem se consegue aceitar. De tudo o que disse até agora , duvido que haja algum ponto mais grave (e triste) do que parecer -se mais feliz do que realmente se é. Concluindo, nas redes sociais em geral, podemos criar uma imagem de nós próprios que em nada coincide com aquilo que somos, com aquilo em que acreditamos e com aquilo que realmente sentimos.

Mas por que razão é que esta hashtags # goals me incomoda verdadeiramente?

As pessoas que assistem a estes vídeos e às publicações diárias do Instagram deste casal sentem-se inseguras em relação a elas próprias, em relação às suas próprias vidas e em relação às relações que estabelecem com as pessoas à sua volta. Catalogam Jay Alvarrez e Alexis como “objetivos”, quando, na verdade, o que precisam é de definir objeti vos concebíveis para as suas próprias vidas . Uma das maneiras de o fazer é, por exemplo, deixarem de se comparar a outras pessoas cuja vida é exposta a 10% na internet, mas com uma dimensão de 99%. Tudo o que publicam no Instagram corresponde ao que aparentam ser, ao que selecionam de melhor para passarem a imagem de uma vida feliz e sem preocupações.

Não faz mal estudar aos 18 anos e lutar pela sua educação, ter um trabalho e contribuir para a sociedade! Mas se ficarem sentados a ver outras pessoas a fazer tudo o que sempre quiseram fazer, nunca irão concretizar esses sonhos, porque não estão a lutar por um objetivo maior que vos possibilita atingir esses sonhos. Em vez disso, estão demasiado ocupados a ver pessoas a concretizar os seus sonhos!

Se as pessoas deixarem de procurar nas outras um Jay Alvarrez ou uma Alexis René , que são os exemplos que peguei para fundamentar a questão deste texto, talvez se sentirão mais felizes por simplesmente serem quem são, viverem do modo que vivem e darão, consequentemente, mais valor ao que têm e a quem têm ao seu lado. Larguem o Facebook , Twitter, Instagram , o que quer que seja, desloquem-se até à biblioteca mais pert o de si, leiam um livro , encham-se do conhecimento que vos leva mais longe e, quando derem por si mesmos , estão mais perto do estilo de vida que querem ou dos sonhos que ambicionam do que estavam antes, enquanto comentavam # goals numa foto do Instagram . É tudo.

Madalena Inverno
publicado por - fcar - às 09:39 | comentar | favorito