Gelo, limão e palhinha, por favor!
Sim, nós precisamos de tratar da nossa casa. Sim, é importante reduzir a produção de lixo. Sim, as tartarugas estão a sofrer. Mas, por favor, não me acabem com as palhinhas. De facto, isto pode ser um pensamento muito egoísta, e por muitos visto como sendo sem noção, contudo não há nada mais satisfatório que sugar um canudinho plástico e sentir as borbulhas de uma bebida gaseificada a subirem pelas paredes maleáveis do mesmo. Saber, exatamente, a quantidade de líquido gelado que entra em contacto direto com o palato é de arrepiar e esse prazer só é conseguido graças a estas tenebrosas.
Eu já nem defendo a assassina de criaturas marítimas, que não pode ser reciclada, porém arranjem uma forma inteligente e eficaz de resolver este problema para o ambiente. Parece que as pessoas que estão a tentar desenvolver uma solução ou não utilizam com frequência este objeto ou não estão minimamente interessados em criar, efetivamente, algo que funcione de verdade.
Surgiram, no mercado, inúmeras alternativas ao plástico, todavia nenhuma delas me parece realmente plausível.
Iniciaram a moda das palhinhas de cartão, com 1001 desenhos muito divertidos, só que ninguém foi capaz de pensar que o instrumento tinha que estar preparado para ser molhado. São precisas, exatamente, três chupadas e uns breves minutos de conversa e ao invés de uma palhinha, passamos a ter uma massa ótima para usar numa guerra de zarabatanas.
Depois, apareceram uns materiais muito melhores, o metal e o vidro. Muito giro, realmente. Fico só com uma pequena dúvida, as pessoas compravam uma palhinha e carregavam-na para todo o lado ou os locais que agora tendem a ter palhinhas plásticas estavam responsáveis por as trocar? Esqueçam. Não percam o vosso tempo a tentar responder, até porque nenhuma das respostas ia fazer qualquer tipo de sentido. Por um lado, ninguém ia carregar diariamente um cilindro de 20 centímetros e o seu estojo de proteção, e por outro que tipo de estabelecimento iria concordar com um investimento deste tamanho, e acreditando que aceitassem, imaginem só os betos que já reclamam das marcas existentes nos copos por terem sido lavados na máquina, a receberem uma palhinha que já foi posta na boca de um monte de plebeus e ainda vêm com essas marcas medonhas.
Não contentes com estas matérias supersustentáveis, eis que surge a revolucionária palhinha de massa. Parece uma ideia inovadora e cheia de vantagens. Biodegradável, consumível, ecológica, um mundo de qualidades, mas e o sabor. Não me venham dizer que o sabor não vai ser alterado. Façam a experiência, coloquem uma palhinha na boca e um esparguete e percebem que a primeira não sabe a nada e o segundo têm sabor sim. Já para não falar que quem quiser beber um chocolate quente agarrado à caneca para aquecer as mãos e ir consumindo a bebida com uma palhinha de massa, sai do café com uma parte do jantar já feito.
A preservação do ambiente é um assunto sério, mas há coisas na vida que nos dão uma qualidade inexplicável. Para mim, as palhinhas são uma dessas coisas. Eu não estou a dizer para nos deixarmos de preocupar com o planeta, mas senhores investigadores pensem melhor. Criem algo que seja igualmente prazeroso para os cidadãos que já não se conseguem sentar numa esplanada e disfrutar de uma bebida sem recorrer à palhinha, bem como, para a Terra.
Mário Barbosa
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