Dualidade de cotidianos durante a epidemia
Os influencers das redes sociais, independente de corresponderem à níveis globais ou nacionais, parecem viver uma realidade totalmente alternativa da qual o resto do mundo se encontra. Evidentemente não é justo generalizar e atribuir tão posicionamento a todos, entretanto grande parte se encaixa em tal frase.
Isto é, desde o surgimento da pandemia no começo do ano até os dias mais atuais muitos deles parecem não ter suas vidas impactadas tanto quanto nós tivemos. Como brasileira, apesar de longe, ainda sim consigo acompanhar mais cotidianamente o que se passa no país a nível de crises de saúde devido ao contacto diário com amigos e familiares que relatam o caos instaurado. Porém, assim que entro no Instagram e vejo stories de blogueiras e personalidades públicas de lá, não vejo muita diferença do conteúdo que era transmitido pré-pandemia.
Um exemplo deles é a Gabriela Pugliesi, musa fitness brasileira com 4,2 milhões de seguidores que não só vive em festas, bares e eventos sociais desde o começo do vírus, como faz questão de documentar tudo e postar com legendas irônicas a gozar com quem cumpriu a quarentena, afinal segundo ela, a vida tem que ser aproveitada. A ironia de tudo é, a mesma contraiu o vírus com cerca de mais 70 amigos, e mesmo assim continuou a viver sua vida naturalmente após a recuperação.
Por outro lado leio relato de pessoas próximas sobre o medo de contrair a doença, já que com o fim da quarentena, tiveram que retornar ao trabalho e utilizar transportes públicos para manter a renda familiar que sofreu graves impactos com a crise proveniente do lockdown. Máscaras por mais de 12 horas a deixar marcas de uso nos rostos, mãos extremamente ressecadas e a pelar devido o uso recorrente do álcool em gel e tentativa de manter o máximo distanciamento de qualquer um que cruze o caminho são situações comuns para quem teme contrair o vírus não só por si próprio, mas também pela saúde de familiares do grupo de risco.
Por esses motivos ando refletindo bastante sobre a questão de cidadania, empatia e responsabilidade social que a pandemia evidenciou na sociedade. Enquanto uns fazem tanto, outros não se dão o trabalho de respeitar normas mínimas estabelecidas que, se cumpridas, evitariam bastante todo esse caos em que estamos. E, como se não bastasse, a influência negativa de incentivo ao descumprimento do dever social por parte dessas figuras públicas.
Ana Dias (66375)