Ano novo, Vírus velho
Quando terminamos um ano, normalmente procuramos fazer um rescaldo dos tempos que vivemos nessa última volta ao redor do sol. Por entre manifestações cósmicas e outros fenómenos, a humanidade passou por ano complicado. Nos primeiros dias de 2020 já ecoavam notícias e diversos relatos sobre um vírus que se propagava no continente asiático, tendo origem num mercado de animais exóticos que ocorrera na cidade de Wuhan, na China. Nos meses seguintes chegaria a quatro continentes e os sistemas nacionais de saúde de alguns países colapsaram perante a elevada propagação do que viria a ser denominado de covid-19. Sincronicamente, o mundo entrou em quarentena, episódio único na história moderna que visava minimizar os danos de uma crise humanitária que se instalara. Entrámos num período que se revelou antagónico à nossa natureza social. Os bares encerravam, os restaurantes também. Os cumprimentos e os aglomerados deram espaço ao silêncio que se vivia nos espaços urbanos. Ficámos reduzidos aos nossos lares - privilegiados aqueles que os possuíam -, e a presença nas redes sociais se intensificou. Privados do toque físico e proximidade, viramo-nos para a fonte virtual de entretenimento moderno. Esta mesma fonte, contudo, partilha outras funcionalidades que nos remetem para a informação transmitida pelos média que vontade nenhuma demonstravam em "escapar ao vírus". Colocando todos estes elementos da equação ao nosso dispor, solucionamos que a resposta ao problema não só se demonstraria dúbia como também a interpretação desse mesmo contexto que se vivia. Surgiam opiniões completamente distintas nas plataformas onde todos podem opinar. A fragilização humanitária levou-nos à crise económica inevitável num mundo que tinha deixado de produzir, praticamente. Milhares agarrados à cama de um hospital, outros tantos milhares sem emprego. Os números subiriam nos meses seguintes enquanto a crise social abriria mais uma nuance nesta situação bicuda. Racismo, violência policial, direitos das mulheres e dos trabalhadores seriam questões presentes e temas de discussão. O ano termina, e tudo se mantêm exceto os dígitos no calendário. A palavra de ordem é esperança/coragem - a expectativa que o pior já passou e que as armas teremos para combater o que ainda de muito problemático se avizinha.
Estamos juntos!
Artur Raposo | 57447