Ensino superior: a futura utopia

Quando somos crianças uma das perguntas que nos fazem mais frequentemente é:
³o que queres ser quando fores grande?². Uns respondem que querem ser
médicos, outros veterinários, jornalistas, advogados, etc. Cada criança tem
a sua ³profissão de sonho² e de certo modo, com alguma inocência obviamente,
sente que a sua vocação é exercer uma profissão que lhe dará um futuro
promissor.
Em 2013 esta situação irá mudar. Agora os pais, avós, vizinhos, irão deixar
de fazer a tão icónica pergunta às nossas crianças. Porquê? Porque todas as
respostas que poderão surgir serão mera utopia. Sim utopia, pois o ensino
universitário público, graças à péssima situação económica do país, poderá
fechar as portas e o nosso Portugal entrará numa enorme regressão que nos
levará de volta aos tempos remotos em que apenas os ³ricos² podiam estudar.
Ao ouvir o discurso dos reitores das universidades públicas deste nosso
azarado país, cresceu em mim um medo enorme: afinal como acabarei o curso
que os meus pais tanto se esforçaram para pagar? Mas pondo o egoísmo de
lado, preocupo-me ainda mais com os meus dois irmãos mais novos; quando eles
terminarem o ensino secundário qual será a dor dos meus pais ao terem de
dizer: ³desculpa filho, mas não temos possibilidades de pagar o teu
³sonho²?² Como eu existem milhares de famílias com esta preocupação, pois
creio que todos nós já percebemos que, com o naufrágio do nosso país, irá
ser impossível estudar no ensino superior. Estaremos a precisar de um novo
³maio de 68²? Talvez seja a única solução para acabar com esta regressãoŠ
Porém, ainda tenho algumas esperanças, acredito que o poder de mudança está
na minha geração. Somos inteligentes, cultos e diria até um pouco
revolucionários. Percebemos que tudo aquilo que os nossos antepassados
conseguiram em 74 está, neste momento, a ser completamente desvalorizado e
não queremos que isso aconteça! Não queremos ser mais um individuo que se
dedicou durante anos a estudar para um dia ter um vida estável e que no
final acaba por ter de ser assíduo, mês após mês no centro de emprego;
também não queremos viver na casa dos nossos pais para sempre, pois também
queremos construir uma família. Neste momento atrevo-me a dizer que queremos
tudo (aquilo a que temos direito) e não queremos nada (nada daquilo que o
futuro prevê que teremos)!
Para terminar esta minha espécie de revolta, apenas digo aquilo que nós,
jovens, não queremos nem gostamos que nos digam: emigrem! Pois tal como um
dia li num simples emblema de uma capa universitária: ³Não me mandem emigrar
que este país também é meu².

Marta Cascalheira, nº43518
publicado por - fcar - às 21:27 | comentar | favorito