princípios
Ser ou ser, eis a questão. Sim, que mais podemos fazer do que continuar a
fazer parte do sistema, deste rebanho adormecido, que pasta no seu campo,
com olhar deambulante, mas vazio? Quero ser ovelha negra, pensar diferente e
ser de facto diferente. Todos os dias me falam de moralismos, de princípios
Sempre me dizem para agir conforme o que é politicamente correto. Mas eu
quero ser diferente e dizer, opinar, porque o que dizem ser correto é
ironicamente o que esconde o incorreto. Quero rebelar-me contra todas estas
hipocrisias. Ainda assim sei que no fundo, vou ser só mais uma no sistema.
Isto vem a propósito de um seminário que assisti esta tarde sobre Jornalismo
e Sociedade e os 10 princípios que devem ser seguidos para se ser um
verdadeiro jornalista. Ora aí está teoria bonita, conveniente e
confortável. Não quero com isto dizer que o que foi dito está errado e devo
referir que quando exprimi a minha opinião no dito seminário, fui
malentendida por algumas das personalidades convidadas. Claro está que
devemos ser verdadeiros, fiéis ao público, verosímeis e com fontes
fidedignas, relevantes, respeitosos quanto à liberdade de cada um, livres de
influências do poder. Claro está. Nunca irei desmentir estes princípios como
os ideais para se exercer o bom jornalismo.
No entanto, olhemos à nossa volta. Esta crise, estes políticos, estes
queixumes e desgraças que nos bombardeiam todos os dias o sistema de
ensino, o de saúde a febre de consumismo sempre presente e o querer
ascender sempre a febre pelo dinheiro, pela fama e mediatismo. Somos uma
sociedade poluída, com graves problemas de prioritização. Muitos seguem o
rasto do dinheiro e passam a vida inteira a fazer aquilo com que nunca
sonharam. Ouço mais «ai, quem me dera ser rico/famoso» do que «ai, quem me
dera que o mundo fosse melhor». E embora eu saiba que todos acham realmente
que o mundo devia de ser melhor, a verdade é que todas as forças são movidas
em prol do dinheiro. Nem que tenhamos que desempenhar uma profissão que
muitas das vezes nos faz chegar a casa completamente frustrados.
O jornalismo não é diferente e trata-se realmente de um dos instrumentos de
regulação do poder. Com estas circunstâncias poderemos falar de verdadeiro
jornalismo? Poderemos sequer dar-nos ao luxo de sermos bons no que fazemos?
Ou não teremos nós outra solução senão calar e fazer, consoante a máquina do
poder nos manda? Sim, os princípios que dizem ser fundamentais para se ser
jornalista, servem de base para o seu trabalho, mas são constantemente
adulterados, principalmente pelos órgãos de comunicação com mais
notoriedade. Olhemos para as notícias mortes, acidentes, escândalos
políticos e sociais, futebol São estes os assuntos na ordem do dia o
sensasionalismo em estado puro, o melhor anestesiante para a sociedade. Por
outro lado, vemos os jornais regionais com a corda ao pescoço, os jornais e
canais culturais negligenciados pela maioria, e um número enorme de
infoexcluídos. Assistimos a grandes problemas sociais, dos quais se fala,
mas nada se faz para serem resolvidos.
Dizem que jornalismo é democracia. Assim seria se esta fosse verdadeira.
Democracia, meus amigos? Ilusão de liberdade de escolha, de voto, de
pensamento. Estamos adormecidos e embora de vez em quando olhemos e nos
apercebamos no poço em que estamos metidos, nada é feito. Fala-se,
discute-se, opina-se. Líderes de opinião é o que há mais e olhamos para eles
com admiração pela sua cultura e poder argumentativo. E quanto aos líderes
de ação? Onde estão eles?
Sei que existem bons comunicadores, bons jornalistas. EU SEI DISSO. Sei
também que existem maus comunicadores, maus jornalistas. E para além disto
sei também que existem jornalistas vítimas de pressões e que embora tenham
uma opinião própria são obrigados a falar de outra maneira.
Como estudante que sou sinto medo por mim e pelos meus colegas pelo futuro
que se avizinha. Que faremos nós perante cenários tão negros? Queremos
seguir príncipios e ser corretos, mas as circunstâncias afastam-nos disso.
Com o grau de desemprego existente e a luta por cunhas e lugares ao sol o
que será que é preferido? Princípios ou lucros? Imaginemos que recebiam um
convite para trabalhar no Correio da Manhã (dos jornais com mais sucesso no
mundo da imprensa) e outro para trabalhar no Jornal de Monchique (jornal
regional que no momento atravessa grandes dificuldades). Qual aceitariam?
Penso que todos sabemos a resposta a essa questão e as suas razões.
Não nos falem de moralismos, falem-nos antes de soluções, pois sem esperança
a nossa geração vai ser uma geração de pobreza, desmotivação e o mais
preocupante: de depressões.
Sejamos sinceros: algumas pessoas deitam-se de consciência tranquila por
terem seguido os princípios. Outras só descansam quando se deitam com os
bolsos cheios. Outras nem se deitam, procupadas como vão
aguentar até ao final do mês.
Ana Félix
fazer parte do sistema, deste rebanho adormecido, que pasta no seu campo,
com olhar deambulante, mas vazio? Quero ser ovelha negra, pensar diferente e
ser de facto diferente. Todos os dias me falam de moralismos, de princípios
Sempre me dizem para agir conforme o que é politicamente correto. Mas eu
quero ser diferente e dizer, opinar, porque o que dizem ser correto é
ironicamente o que esconde o incorreto. Quero rebelar-me contra todas estas
hipocrisias. Ainda assim sei que no fundo, vou ser só mais uma no sistema.
Isto vem a propósito de um seminário que assisti esta tarde sobre Jornalismo
e Sociedade e os 10 princípios que devem ser seguidos para se ser um
verdadeiro jornalista. Ora aí está teoria bonita, conveniente e
confortável. Não quero com isto dizer que o que foi dito está errado e devo
referir que quando exprimi a minha opinião no dito seminário, fui
malentendida por algumas das personalidades convidadas. Claro está que
devemos ser verdadeiros, fiéis ao público, verosímeis e com fontes
fidedignas, relevantes, respeitosos quanto à liberdade de cada um, livres de
influências do poder. Claro está. Nunca irei desmentir estes princípios como
os ideais para se exercer o bom jornalismo.
No entanto, olhemos à nossa volta. Esta crise, estes políticos, estes
queixumes e desgraças que nos bombardeiam todos os dias o sistema de
ensino, o de saúde a febre de consumismo sempre presente e o querer
ascender sempre a febre pelo dinheiro, pela fama e mediatismo. Somos uma
sociedade poluída, com graves problemas de prioritização. Muitos seguem o
rasto do dinheiro e passam a vida inteira a fazer aquilo com que nunca
sonharam. Ouço mais «ai, quem me dera ser rico/famoso» do que «ai, quem me
dera que o mundo fosse melhor». E embora eu saiba que todos acham realmente
que o mundo devia de ser melhor, a verdade é que todas as forças são movidas
em prol do dinheiro. Nem que tenhamos que desempenhar uma profissão que
muitas das vezes nos faz chegar a casa completamente frustrados.
O jornalismo não é diferente e trata-se realmente de um dos instrumentos de
regulação do poder. Com estas circunstâncias poderemos falar de verdadeiro
jornalismo? Poderemos sequer dar-nos ao luxo de sermos bons no que fazemos?
Ou não teremos nós outra solução senão calar e fazer, consoante a máquina do
poder nos manda? Sim, os princípios que dizem ser fundamentais para se ser
jornalista, servem de base para o seu trabalho, mas são constantemente
adulterados, principalmente pelos órgãos de comunicação com mais
notoriedade. Olhemos para as notícias mortes, acidentes, escândalos
políticos e sociais, futebol São estes os assuntos na ordem do dia o
sensasionalismo em estado puro, o melhor anestesiante para a sociedade. Por
outro lado, vemos os jornais regionais com a corda ao pescoço, os jornais e
canais culturais negligenciados pela maioria, e um número enorme de
infoexcluídos. Assistimos a grandes problemas sociais, dos quais se fala,
mas nada se faz para serem resolvidos.
Dizem que jornalismo é democracia. Assim seria se esta fosse verdadeira.
Democracia, meus amigos? Ilusão de liberdade de escolha, de voto, de
pensamento. Estamos adormecidos e embora de vez em quando olhemos e nos
apercebamos no poço em que estamos metidos, nada é feito. Fala-se,
discute-se, opina-se. Líderes de opinião é o que há mais e olhamos para eles
com admiração pela sua cultura e poder argumentativo. E quanto aos líderes
de ação? Onde estão eles?
Sei que existem bons comunicadores, bons jornalistas. EU SEI DISSO. Sei
também que existem maus comunicadores, maus jornalistas. E para além disto
sei também que existem jornalistas vítimas de pressões e que embora tenham
uma opinião própria são obrigados a falar de outra maneira.
Como estudante que sou sinto medo por mim e pelos meus colegas pelo futuro
que se avizinha. Que faremos nós perante cenários tão negros? Queremos
seguir príncipios e ser corretos, mas as circunstâncias afastam-nos disso.
Com o grau de desemprego existente e a luta por cunhas e lugares ao sol o
que será que é preferido? Princípios ou lucros? Imaginemos que recebiam um
convite para trabalhar no Correio da Manhã (dos jornais com mais sucesso no
mundo da imprensa) e outro para trabalhar no Jornal de Monchique (jornal
regional que no momento atravessa grandes dificuldades). Qual aceitariam?
Penso que todos sabemos a resposta a essa questão e as suas razões.
Não nos falem de moralismos, falem-nos antes de soluções, pois sem esperança
a nossa geração vai ser uma geração de pobreza, desmotivação e o mais
preocupante: de depressões.
Sejamos sinceros: algumas pessoas deitam-se de consciência tranquila por
terem seguido os princípios. Outras só descansam quando se deitam com os
bolsos cheios. Outras nem se deitam, procupadas como vão
aguentar até ao final do mês.
Ana Félix