
Os jogos de vídeo são neste momento uma das formas de entretenimento mais populares de sempre. League of Legends, um jogo online, conta com cerca de 27 milhões de utilizadores por dia, e no ano passado, Call of Duty: Black Ops III angariou mais de 550 milhões de dólares em apenas 3 dias. As empresas de videojogos têm neste momento um poder comparável ao das grandes empresas de cinema. No entanto, parece que ainda há alguns problemas que fazem com que estes não possam ser uma forma de arte comparável à música, literatura ou cinema.
O que me fez pensar acerca deste tema foi um artigo do “bloguer” Film Critic Hulk, no qual ele mencionou que um conteúdo de entretenimento só poderá ser considerado arte se as suas mensagens temáticas fizerem parte da sua conceção e identidade. Este parece ser um critério simples, visto muitos jogos já terem começado a explorar algum tipo de temática, principalmente os de guerra, que costumam ter alguma carga política (mesmo que esta seja um pouco ignorante). Mas para Hulk, o problema aqui é o de as mensagens temáticas não serem a razão destes jogos serem feitos, eles parecem apenas servir de “suplemento” aos desenvolvimentos de jogabilidade e geralmente estão presentes devido aos jogos necessitarem de ter uma “campanha” com história.
Eu pessoalmente não concordo completamente com o ponto de vista do Film Critic Hulk. Mesmo que uma forma de entretenimento não seja criada com o objetivo de partilhar uma mensagem temática, este pode acabar por o fazer. Algumas das histórias do cinema e da literatura que mais perduram nos dias de hoje começaram apenas como “exercícios em entretenimento”, sendo que as preocupações iniciais dos seus criadores estavam apenas em entreter um público de massas. Exemplos disso são as obras de Jules Verne e os filmes da saga Star Wars. Claro que acabam por ter algum tipo de tema, seja ele o isolamento na natureza ou o poder dos laços entre pai e filho. No entanto, esses temas não fizeram parte da conceção das histórias, sendo que o objetivo primário era o de dar ao leitor/ visualizador a possibilidade de embarcar numa aventura única.

Isto traz-me a um exemplo do potencial dos videojogos enquanto arte, e as suas possibilidades temáticas com Bioshock. Este jogo lançado em 2008 foi obviamente criado com o objetivo de ser um bom jogo de ação, no entanto, os seus criadores foram desenvolvendo o mundo no qual este se passa e a sua história a um nível para além do que era esperado. Com um design inspirado em “Art Déco”, este foi um jogo que explorou o “lado negativo” do Objetivismo defendido por Ayn Rand (Atlas Shrugged e The Fountainhead). Para além disso, também apresentou um “twist” perto do final da história que era poderoso o suficiente para fazer qualquer jogador repensar nas suas decisões anteriores.
Bioshock nem é o único jogo com bom storytelling, The Walking Dead: The Video Game e The Last of Us são nomes que merecem igual destaque. Confesso que não sou um “Gamer” ávido, pois sem contar com pequenos jogos de telemóvel, eu basicamente não jogo há mais de um ano. No entanto, vejo nesta forma de média algum mérito artístico que merece ser valorizado. Infelizmente, a indústria também é atrasada por movimentos sexistas como o “Gamergate”, chantagem a críticos por parte das empresas, que os forçam a dar excelentes notas a jogos medíocres, e o “milking” que força séries de jogos com algum potencial inicial a terem de lançar um novo título todos os anos e a irem reduzindo a sua qualidade (Assassin’s Creed e Call of Duty).
Apesar de ainda não ser uma forma de arte comparável à música, literatura, cinema, etc, considero que os jogos de vídeo já têm méritos suficiente para poderem ser considerados arte. Sendo uma forma de media relativamente recente, também acredito que o verdadeiro potencial artístico dos videojogos ainda não foi completamente explorado.
Adriano Ferreira