Recordo-me ainda dos tempos em que a escolaridade obrigatória era até ao 9ºano de escolaridade. Em tempos sucessivos, aumentou para o 12ºano.
Hoje em dia, qualquer jovem que acabe o 12ºano confronta-se com a seguinte situação: “O que faço agora?” “Deverei tirar um curso superior ou não vale a pena e tento arranjar um trabalho com o 12ºano?”
“Com o 12ºano em Portugal, não sei vai a lado nenhum”, dizem-nos alguns adultos com grande experiência de vida. Nós com a expectativa de um dia podermos ter uma vida melhor do que alguns de nós já tem, seguimos o conselho e progredimos para uma licenciatura.
Tempos mais tarde, na universidade, continuamos a ouvir mais conselhos: “uma licenciatura não te leva a lado nenhum. Tens que tirar um mestrado no que queres!”, Sem antes esquecer que já ouvimos não só de familiares, mas de qualquer conhecido a seguinte abordagem: “O quê? Isso não tem saída nenhuma! Vai antes para médico ou enfermeiro” caso, não sigamos essa área. Caso a sigamos, ouvimos em seguida: “médico? Está difícil…”
Mas quem vamos nós culpar por esta situação, por esta mentalidade portuguesa do encaminhamento dos jovens para uma licenciatura?
Existem situações de pessoas com baixa escolaridade que não conseguem um emprego no seu país (Portugal) melhor do que obras ou supermercado, e emigram conseguindo por vezes melhor que isso apesar das baixas qualificações, ou até emigram para trabalhar nas obras mas com um salário claro, bastante diferente do que Portugal.
Nós, licenciados, ou quase licenciados, somos incentivados a tirar mais e mais cursos superiores para que um dia não estejamos na mesma situação, mas a verdade é que quando finalizamos o curso e não temos emprego, todos pomos a hipótese de emigrar não é?
E como nos sentimos nós, quando os nossos familiares imersos de dificuldades de esforçam para nos pagar um curso superior para termos uma vida melhor do que talvez a que eles tiveram, e um dia mais tarde não lhes podemos retribuir todo o esforço pois não temos para lhes pagar um lar, um arranjo de automóvel que está na oficina e ainda lhes pedimos mais, pois não conseguimos ter rendimentos para um dia poder sair de casa e fazer a nossa vida.
Comos nos sentimos nós quando lemos um artigo em que a Merkel diz que em Portugal há demasiados licenciados? O que seremos nós?
De que serve sermos licenciados, termos que trabalhar nas obras e não podermos dizer que trabalhamos na empresa x, a qual estudámos para um dia poder trabalhar?
Tentaremos. Continuaremos a tentar, para vermos o nosso país a envelhecer. Envelhecer porquê?
Porque as pessoas de 66 anos já cansadas, ainda lá continuam, pois tem que esperar pela reforma. Nós licenciados, não podemos ocupar o seu posto, e vemo-las sacrificar se mais um pouco, enquanto estamos na fila do desemprego.
Existem outras formas de manter um país com população ativa, existem outras formas de diminuir a taxa de envelhecimento em Portugal, existem outras formas para fazer as pessoas felizes.
Cada um tenta sobreviver da maneira que pode. Mas isto levanta-nos uma outra questão…é suposto “sobrevivermos”? Ou vivermos a vida o melhor que podemos?
Cátia Pires 49608