Eutanásia e Controvérsias
A Eutanásia foi, e sempre será, um tema bastante instável em qualquer sociedade, seja em que sítio for, haverá sempre pessoas a favor e contra. No meu caso admito que ao longo das minhas pesquisas para este texto, tive algumas oscilações de opinião, no entanto, continuo a achar que cada um sabe de si, e nada nem ninguém deve opinar sobre as escolhas de cada indivíduo.
As origens da eutanásia não são assim tão recentes, diz-nos a história que já os celtas tinham como hábito matar os seus pais quando estes já se encontravam velhos e doentes, sem esperanças de recuperar a vitalidade, e na Índia, os doentes incuráveis eram levados para a beira do rio Gandes, onde as suas bocas e narinas eram tapadas com barro e eram finalmente atirados ao rio, para lá morrerem.
A eutanásia (termo de origem grega eu+thanatos que significa Boa Morte ou Morte Doce) é vista, para quem a defende, como uma saída fácil e sem dor para casos de agonia e nos quais a esperança, que deveria ser a última a morrer, já morreu há muito.
Porquê continuar preso a uma cama, sem poder esperar melhores dias, quando se pode abandonar tudo o que nos prende a este leito, de forma digna e em paz com o mundo?
Este foi o caso de Robert Dent, um carpinteiro de 66 anos, vivendo na cidade australiana de Darwin. Foi o primeiro paciente a obter uma autorização legal para morrer de forma assistida. Depois de um bom almoço com a sua esposa Judy Dent, no dia 22 de Setembro de 1996, escolheu a injecção letal para terminar a sua vida. Este paciente debatia-se com cancro da próstata desde 1991.
Até aqui tudo bem.
Aqui começam as tais oscilações. Quando me deparo com o caso do médico Jack Kevorkian, mais conhecido pela sua alcunha de Dr.Morte, sendo atribuído tal epíteto por fotografar os olhos dos seus pacientes falecidos, logo no início da sua carreira.
Nascido no estado do Michigan dos Estados Unidos da América em 1928, Jack Kevorkian, assistiu medicamente a morte de cerca de 130 pessoas. Com a ajuda de vários aparelhos desenvolvidos por si, sendo um deles o "Mercytron" (de mercy, misericórdia, em inglês). Um aparelho controlado pelo próprio paciente que libertava um fluxo de monóxido de carbono. No entanto, alguns dos pacientes desde dito doutor morreram em circunstâncias menos claras. Foi o caso de Rebecca Lou Badger, que supostamente sofria de esclerose múltipla e escolheu a saída que a eutanásia oferecia. No entanto, na autópsia feita a paciente, não havia sinais da doença, sendo Rebecca um dos muitos casos cinzentos deste médico.
Como médico, Kevorkian efectuou o Juramento de Hipócrates, no qual se faz a promessa solene de salvar vidas, não retirá-las. Como tal, percebo o confronto de ideais de muitos médicos, no entanto, cada um escolhe o seu caminho, seja ele qual for.
No caso da Europa, apenas na Holanda, Bélgica e Suíça se pode fazer esta escolha, no entanto, pessoas de outras nacionalidades, fazem a opção de viajar para um dos 3 países para lá fechar os olhos pela última vez.
A eutanásia fica assim marcada pela controvérsia, e há uma linha ténue entre o que para mim é correto neste assunto. Consoante os casos, será ou não aceite esta medida. Passo a explicar: Deverá uma pessoa recentemente diagnosticada com uma doença potencialmente fatal, optar logo por esta medida, sem antes lutar com unhas e dentes pela sua vida? Não. Deverá aplicar-se a uma pessoa diagnosticada com Parkinson (por exemplo), uma doença na qual podem passar anos sem se perder a qualidade de vida, e para a qual há uma panóplia de tratamentos e fisioterapias para lutar contra a degeneração? Não.
Deverá uma pessoa optar por esta saída quando já não existem meios de recuperação para o seu estado nem a possibilidade de lhe fornecer qualquer bem-estar? Penso que sim.
Assim, acho que "solução final" nunca vai ser aceite totalmente, no entanto, deixo a pergunta: Será justo, ser julgado, fazer viagens caras e prolongar o sofrimento dos pacientes e das suas famílias, quando tudo o que se quer é adormecer para não mais acordar?
(Este texto pode também ser visto no blog Perspectivas)
Filomena Pires Nº47777
As origens da eutanásia não são assim tão recentes, diz-nos a história que já os celtas tinham como hábito matar os seus pais quando estes já se encontravam velhos e doentes, sem esperanças de recuperar a vitalidade, e na Índia, os doentes incuráveis eram levados para a beira do rio Gandes, onde as suas bocas e narinas eram tapadas com barro e eram finalmente atirados ao rio, para lá morrerem.
A eutanásia (termo de origem grega eu+thanatos que significa Boa Morte ou Morte Doce) é vista, para quem a defende, como uma saída fácil e sem dor para casos de agonia e nos quais a esperança, que deveria ser a última a morrer, já morreu há muito.
Porquê continuar preso a uma cama, sem poder esperar melhores dias, quando se pode abandonar tudo o que nos prende a este leito, de forma digna e em paz com o mundo?
Este foi o caso de Robert Dent, um carpinteiro de 66 anos, vivendo na cidade australiana de Darwin. Foi o primeiro paciente a obter uma autorização legal para morrer de forma assistida. Depois de um bom almoço com a sua esposa Judy Dent, no dia 22 de Setembro de 1996, escolheu a injecção letal para terminar a sua vida. Este paciente debatia-se com cancro da próstata desde 1991.
Até aqui tudo bem.
Aqui começam as tais oscilações. Quando me deparo com o caso do médico Jack Kevorkian, mais conhecido pela sua alcunha de Dr.Morte, sendo atribuído tal epíteto por fotografar os olhos dos seus pacientes falecidos, logo no início da sua carreira.
Nascido no estado do Michigan dos Estados Unidos da América em 1928, Jack Kevorkian, assistiu medicamente a morte de cerca de 130 pessoas. Com a ajuda de vários aparelhos desenvolvidos por si, sendo um deles o "Mercytron" (de mercy, misericórdia, em inglês). Um aparelho controlado pelo próprio paciente que libertava um fluxo de monóxido de carbono. No entanto, alguns dos pacientes desde dito doutor morreram em circunstâncias menos claras. Foi o caso de Rebecca Lou Badger, que supostamente sofria de esclerose múltipla e escolheu a saída que a eutanásia oferecia. No entanto, na autópsia feita a paciente, não havia sinais da doença, sendo Rebecca um dos muitos casos cinzentos deste médico.
Como médico, Kevorkian efectuou o Juramento de Hipócrates, no qual se faz a promessa solene de salvar vidas, não retirá-las. Como tal, percebo o confronto de ideais de muitos médicos, no entanto, cada um escolhe o seu caminho, seja ele qual for.
No caso da Europa, apenas na Holanda, Bélgica e Suíça se pode fazer esta escolha, no entanto, pessoas de outras nacionalidades, fazem a opção de viajar para um dos 3 países para lá fechar os olhos pela última vez.
A eutanásia fica assim marcada pela controvérsia, e há uma linha ténue entre o que para mim é correto neste assunto. Consoante os casos, será ou não aceite esta medida. Passo a explicar: Deverá uma pessoa recentemente diagnosticada com uma doença potencialmente fatal, optar logo por esta medida, sem antes lutar com unhas e dentes pela sua vida? Não. Deverá aplicar-se a uma pessoa diagnosticada com Parkinson (por exemplo), uma doença na qual podem passar anos sem se perder a qualidade de vida, e para a qual há uma panóplia de tratamentos e fisioterapias para lutar contra a degeneração? Não.
Deverá uma pessoa optar por esta saída quando já não existem meios de recuperação para o seu estado nem a possibilidade de lhe fornecer qualquer bem-estar? Penso que sim.
Assim, acho que "solução final" nunca vai ser aceite totalmente, no entanto, deixo a pergunta: Será justo, ser julgado, fazer viagens caras e prolongar o sofrimento dos pacientes e das suas famílias, quando tudo o que se quer é adormecer para não mais acordar?
(Este texto pode também ser visto no blog Perspectivas)
Filomena Pires Nº47777