A culpa é das vítimas
A sociedade em que vivemos parece ter um certo gosto em culpar as vítimas da
situação na qual se encontram. Desde a crise, a doenças mentais e a
problemas sociais como a violação, as vítimas são culpabilizadas e
castigadas por algo que está fora do seu poder concertar, e muitas vezes
prevenir.
Esta crise, por exemplo. Quem paga? Os cidadãos. Mas de quem é a culpa? Dos
trabalhadores públicos que vêm os seus subsídios cortados de uma maneira tal
que muitas vezes as suas famílias passam fome? Dos estudantes que vêm as
propinas aumentar de tal maneira que têm de desistir da universidade por não
a conseguirem pagar, e entram num mercado de trabalho extremamente
competitivo, muitas vezes sem experiência de trabalho e apenas com o décimo
segundo ano?
Pagamos todos, mas ninguém encontra o culpado. Ou, muitas vezes, o culpado
está por detrás de um escudo comprado pelo dinheiro ou tem imunidade
política, judicialmente intocável para o cidadão comum, e apesar de serem
culpabilizados na praça pública, e até nos media, os responsáveis vivem um
dia-a-dia de luxo, enquanto as vítimas pagam, e são acusadas de serem
"esbanjadoras" e "preguiçosas".
Com outras situações é igual. Quantas vítimas de depressão não ouviram já
"isso já passa, para de ser maricas", "só queres atenção", "isso é uma
desculpa para não fazeres nada" e o sempre popular "só estás assim porque
queres, se fosses mais (inserir adjetivo preferencial da pessoa que profere
esta afronta) estavas muito melhor". A depressão é uma doença mental que se
exprime de várias maneiras, e está ligada ao ambiente socioeconómico das
suas vítimas, ou a predisposições genéticas, e não de maneira nenhuma à
vontade. Ninguém quer estar deprimido, mas dizer aos que sofrem e batalham
todos os dias num ambiente hostil contra sentimentos de exclusão, solidão,
melancolia e muitas vezes suicídio, para se tratarem e que só estão assim
porque querem é mais fácil do que cuidar das vítimas, apoiá-las
emocionalmente e, pelos vistos, reconhecer a depressão como um problema
social que deve ser debatido.
A solução passa também em criar melhores armas para combater estes
problemas. Precisamos de debater como sair da crise mais livremente; os
cidadãos deveriam ter mais acesso a fóruns económicos para que percebam
parte do problema, e as várias soluções possíveis (porque, como vimos, a
austeridade não é solução, e estrangular ainda mais as finanças de um país
só vai estrangular ainda mais a economia mundial); a depressão devia ser
abordada mais abertamente como um problema que afeta grande parte da
população mundial, e as suas vítimas tratadas medicamente com respeito, em
vez de as entupirem com comprimidos que as deixam como vegetais, ou que
agravem mais as hipóteses de suicídio; e as vítimas de violação não deveriam
ser culpabilizadas pelas ações de outrem, independentemente das
circunstâncias em que tal aconteceu.
Parem de culpar as vítimas. Comecem a punir os culpados.
Sara Ruas, no.45110
situação na qual se encontram. Desde a crise, a doenças mentais e a
problemas sociais como a violação, as vítimas são culpabilizadas e
castigadas por algo que está fora do seu poder concertar, e muitas vezes
prevenir.
Esta crise, por exemplo. Quem paga? Os cidadãos. Mas de quem é a culpa? Dos
trabalhadores públicos que vêm os seus subsídios cortados de uma maneira tal
que muitas vezes as suas famílias passam fome? Dos estudantes que vêm as
propinas aumentar de tal maneira que têm de desistir da universidade por não
a conseguirem pagar, e entram num mercado de trabalho extremamente
competitivo, muitas vezes sem experiência de trabalho e apenas com o décimo
segundo ano?
Pagamos todos, mas ninguém encontra o culpado. Ou, muitas vezes, o culpado
está por detrás de um escudo comprado pelo dinheiro ou tem imunidade
política, judicialmente intocável para o cidadão comum, e apesar de serem
culpabilizados na praça pública, e até nos media, os responsáveis vivem um
dia-a-dia de luxo, enquanto as vítimas pagam, e são acusadas de serem
"esbanjadoras" e "preguiçosas".
Com outras situações é igual. Quantas vítimas de depressão não ouviram já
"isso já passa, para de ser maricas", "só queres atenção", "isso é uma
desculpa para não fazeres nada" e o sempre popular "só estás assim porque
queres, se fosses mais (inserir adjetivo preferencial da pessoa que profere
esta afronta) estavas muito melhor". A depressão é uma doença mental que se
exprime de várias maneiras, e está ligada ao ambiente socioeconómico das
suas vítimas, ou a predisposições genéticas, e não de maneira nenhuma à
vontade. Ninguém quer estar deprimido, mas dizer aos que sofrem e batalham
todos os dias num ambiente hostil contra sentimentos de exclusão, solidão,
melancolia e muitas vezes suicídio, para se tratarem e que só estão assim
porque querem é mais fácil do que cuidar das vítimas, apoiá-las
emocionalmente e, pelos vistos, reconhecer a depressão como um problema
social que deve ser debatido.
A solução passa também em criar melhores armas para combater estes
problemas. Precisamos de debater como sair da crise mais livremente; os
cidadãos deveriam ter mais acesso a fóruns económicos para que percebam
parte do problema, e as várias soluções possíveis (porque, como vimos, a
austeridade não é solução, e estrangular ainda mais as finanças de um país
só vai estrangular ainda mais a economia mundial); a depressão devia ser
abordada mais abertamente como um problema que afeta grande parte da
população mundial, e as suas vítimas tratadas medicamente com respeito, em
vez de as entupirem com comprimidos que as deixam como vegetais, ou que
agravem mais as hipóteses de suicídio; e as vítimas de violação não deveriam
ser culpabilizadas pelas ações de outrem, independentemente das
circunstâncias em que tal aconteceu.
Parem de culpar as vítimas. Comecem a punir os culpados.
Sara Ruas, no.45110