As praxes que vou conhecendo
Ainda nem sequer sabia que tinha entrado em Ciências da Comunicação e logo um indivíduo com tiques de membro de uma qualquer guarda pretoriana me abordava, destemido, incitando-me a uma resposta que não podia dar. Qual era mesmo o meu curso? Não sabia. Como não fazia ideia de quem o indivíduo era. Como não fazia ideia de porque é que ele me estava a tratar daquela forma.
Volvido algum tempo, lá houve outro, meio enfezado, que me fez saber do "real código da praxis", in nomine dei e do diabo a quatro, e com mil e uma acusações me fez saber do destino cruel que me esperava, de um tribunal, do traje a rigor e da minúcia do seu corte mescladocom o cheiro a vinho com que iria ser julgado. Se na primeira ocasião de que falei não tive chance de orgulhar a minha família contando-lhes tal interação com os meus novos colegas, nesta lá chamei uns amigos que se mostraram dispostos a seguir o meu primeiro caso de tribunal. Tem graça, porque eles realmente não fazem a menor ideia sobre que curso eu ando a tirar; tem graça,porque se eu lhes dizer que estudo Direito eles nunca me dirão que esse curso não existe na universidade que frequento; tem graça, pois deve ser essa a associação que eles fizeram. Mas saíram desiludidos com a resposta final que saiu do concílio que minutos antes se formou e, algum tempo depois, abandonaram o espetáculo, não só com impropérios à minha pessoa mas a fazerem notar que napróxima pelada que realizássemos não estaria a salvo. Eu percebo-os, pois comprar um bilhete sem poder assistir ao espetáculo que esperávamos não é agradável. Para mais, o ambiente criado com a mesa dos doutores e as cinquenta matrículas (que orgulho!) deixava antever algo grandioso e, perdoem-me a sinceridade, os meus amigos mereciam mais.
Ainda antes destes meus contactos preliminares com quem supostamente me deveria praxar, - nem preciso de mencionar que tendo em conta os requisitos exigentes que se devem sempre cumprir - (ter sido praxado e recebido a formação minuciosa correspondente e seguindo uma leiquase divina que está compilada num código e enraizada numa tradição que se não me risse na cara deles eram capazes de defender que é milenar) - , ouvia relatos constantes de amigos que, uns mais sorridentes que outros, me relatavam as suas histórias de praxes, os seus feitos frente aos doutores/académicos/veteranos/qualquer outro título pretensioso que me esteja a esquecer, as atividades com que ocupavam os dias. Notava nalguns deles uma dualidade interessante: não gostavam daquilo que estavam a fazer mas, ao mesmo tempo, não queriam deixar de ser praxados. Interessante. É vulgarmente atribuída a Einsteinuma frase curiosa que diz que a insanidade pode ser demonstrada pela insistência em fazer exatamente a mesma coisa e esperar resultados distintos, e eu perguntava-me enquanto os ouvia se realmente poderia aplicar a definição. Estou convencido que para além disso existe uma certa noção de pertença, a tentativa de ser do grupo, fazer parte, pelo que, em autoanálise, é uma das razões que facilmente explicam que eu nunca tenha visto como necessária a minha participação em algo sequer semelhante.
Peço desculpa se com este texto vos aborreci, poiscompreendo que as minhas histórias de praxe não fazem jus nem à multiplicidade de atividades que se podem realizar nem de certeza se assemelham ao glamour e ao elevado grau intelectual que o primeiro contacto que alguns de nós tiveram com o meio académico tenha sido tão desprestigiante como o meu, mas agora que já vos irei, erasó mesmo para pedir que contassem as vossas histórias de praxe nos comentários e convidar-vos a que dia 16, na sala 62, participem num debate que visará o mesmo tema.
André santos
Volvido algum tempo, lá houve outro, meio enfezado, que me fez saber do "real código da praxis", in nomine dei e do diabo a quatro, e com mil e uma acusações me fez saber do destino cruel que me esperava, de um tribunal, do traje a rigor e da minúcia do seu corte mescladocom o cheiro a vinho com que iria ser julgado. Se na primeira ocasião de que falei não tive chance de orgulhar a minha família contando-lhes tal interação com os meus novos colegas, nesta lá chamei uns amigos que se mostraram dispostos a seguir o meu primeiro caso de tribunal. Tem graça, porque eles realmente não fazem a menor ideia sobre que curso eu ando a tirar; tem graça,porque se eu lhes dizer que estudo Direito eles nunca me dirão que esse curso não existe na universidade que frequento; tem graça, pois deve ser essa a associação que eles fizeram. Mas saíram desiludidos com a resposta final que saiu do concílio que minutos antes se formou e, algum tempo depois, abandonaram o espetáculo, não só com impropérios à minha pessoa mas a fazerem notar que napróxima pelada que realizássemos não estaria a salvo. Eu percebo-os, pois comprar um bilhete sem poder assistir ao espetáculo que esperávamos não é agradável. Para mais, o ambiente criado com a mesa dos doutores e as cinquenta matrículas (que orgulho!) deixava antever algo grandioso e, perdoem-me a sinceridade, os meus amigos mereciam mais.
Ainda antes destes meus contactos preliminares com quem supostamente me deveria praxar, - nem preciso de mencionar que tendo em conta os requisitos exigentes que se devem sempre cumprir - (ter sido praxado e recebido a formação minuciosa correspondente e seguindo uma leiquase divina que está compilada num código e enraizada numa tradição que se não me risse na cara deles eram capazes de defender que é milenar) - , ouvia relatos constantes de amigos que, uns mais sorridentes que outros, me relatavam as suas histórias de praxes, os seus feitos frente aos doutores/académicos/veteranos/qualquer outro título pretensioso que me esteja a esquecer, as atividades com que ocupavam os dias. Notava nalguns deles uma dualidade interessante: não gostavam daquilo que estavam a fazer mas, ao mesmo tempo, não queriam deixar de ser praxados. Interessante. É vulgarmente atribuída a Einsteinuma frase curiosa que diz que a insanidade pode ser demonstrada pela insistência em fazer exatamente a mesma coisa e esperar resultados distintos, e eu perguntava-me enquanto os ouvia se realmente poderia aplicar a definição. Estou convencido que para além disso existe uma certa noção de pertença, a tentativa de ser do grupo, fazer parte, pelo que, em autoanálise, é uma das razões que facilmente explicam que eu nunca tenha visto como necessária a minha participação em algo sequer semelhante.
Peço desculpa se com este texto vos aborreci, poiscompreendo que as minhas histórias de praxe não fazem jus nem à multiplicidade de atividades que se podem realizar nem de certeza se assemelham ao glamour e ao elevado grau intelectual que o primeiro contacto que alguns de nós tiveram com o meio académico tenha sido tão desprestigiante como o meu, mas agora que já vos irei, erasó mesmo para pedir que contassem as vossas histórias de praxe nos comentários e convidar-vos a que dia 16, na sala 62, participem num debate que visará o mesmo tema.
André santos